Lula é o novo preto

O ex-presidente Lula voltou à moda e deve ser a tendência deste alto verão – as capas de revistas semanais e primeiras páginas de jornais transbordam de Lula.

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Após a capa da Isto É, que nos renderá ainda boas risadas por algum tempo, a Folha on line, deste domingo, 19 de fevereiro de 2017, é Lula de ponta a ponta.pretinho básico 3.jpg

As manchetes seguem o modelo “o maior escândalo de todos os tempos da última semana”. O conteúdo das matérias, no entanto, é fraco, na base do “é o que temos para o momento”. E ainda que o jornalismo sempre tenha se apoiado em manchetes, o jornalismo atual parece tentar viver apenas delas – como memes de internet.

Odebrecht bancou treinamento empresarial para filho caçula de Lula

“Um dos favores feitos pela Odebrecht para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pagar um orientador de carreira para ajudar seu filho Luís Cláudio a colocar de pé a empresa Touchdown Promoções e Eventos Esportivos, que organizava um campeonato de futebol americano. A informação consta da delação premiada da empresa, que ainda está sob sigilo”.

[A Folha confunde vazamento com informação ainda não divulgada oficialmente – ou seja, elevaram especulação à chamada de capa]

A matéria toda é um requentado de supostos escândalos envolvendo supostos favorecimentos ao ex-presidente Lula que continuam supostos. Mas o “novo escândalo” traz um detalhe interessante:

“Caçula de Lula e Marisa, [Luís Claudio] promoveu entre 2012 e 2015 o Torneio Touchdown, que reunia cerca de 20 equipes de futebol americano”.

Em 2012, Lula não era mais presidente, havia mais de um ano. Fim de caso, mas deu manchete.

A próxima matéria é pior ainda.

Delação de Eike pode esclarecer elos com Cabral, Cunha e PT

Detalhe importante, Eike ainda não deu nenhum depoimento depois que foi preso, ou fez qualquer acordo de delação. Mas a Folha especula como seria um suposto depoimento. E aí esbarra com o seguinte problema:

“Há dúvidas ainda sobre o que Eike lucrava ao prestar favores a figuras importantes dos governos do PT, como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que serviu às gestões Lula e Dilma Rousseff”.

Sim, o texto é esse mesmo – “há dúvidas ainda…”. Ou seja, não há matéria alguma, mas rendeu manchete.

Parecem e são matérias feitas às presas.

Por que a Folha se arriscaria ao ridículo com elas?

Primeiro, porque a preocupação com o ridículo deixou de frequentar as editorias desde há muito tempo. Segundo que a precariedade das redações atuais não permite voos maiores.

Mas a razão do açodamento, na verdade, está em uma matéria que a Folha trouxe escondidinha e com atraso – velho de dois dias, jornal não embrulha nem peixe na feira.

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Lula está na frente no primeiro turno e ganha no segundo turno em qualquer dos cenários pesquisados. Mas isso não deu manchete.

Não deu manchete, mas trouxe Lula de volta à moda.

E a volta de Lula às manchetes de escândalo é tão óbvia como o “pretinho básico” – nunca sai da moda e está sempre à mão quando não se sabe o que usar para a ocasião.

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