A face cruel do golpe

O Golpe de 2016 acrescentou 3 milhões de pessoas ao mapa da fome brasileiro. Mas o pior ainda está por vir: os pobres serão comidos pelos miseráveis

Do ponto de vista econômico, o Golpe de 2016, que alijou a presidente Dilma Rousseff do poder, foi um fracasso retumbante: entre 2014 e 2018 – o período do golpe, seguido do governo Temer – o PIB teve uma queda de 5,3% e os investimentos despencaram 27%.

A face cruel do golpe

As piores consequência, porém, são as que afetam vidas humanas e não os índices estatísticos; em 17 de setembro de 2020, uma reportagem do Portal G1 da Globo nos mostra a face cruel do golpe: 3 milhões de pessoas acrescidas ao mapa da fome brasileiro. Segundo o IBGE, com dados de 2018, o Brasil tem 10,3 milhões de pessoas passando fome. E como o IBGE não considerou nesse levantamento as pessoas vivendo em situação de rua, esse número é ainda maior – mais 100 mil famintos, pelo menos.

Além disso, ainda segundo o IBGE, 37% das famílias brasileiras estão sujeitas a alguma forma de insegurança alimentar – um acréscimo de 14 pontos percentuais, desde 2013 – os lares famélicos são da ordem de 5%.

Para se ter uma noção do sofrimento humano contido no termo técnico “insegurança alimentar”, basta saber quais as preocupações que passam a fazer parte das famílias que se encontram nessa situação:

  • Não ter certeza se terá como comprar alimentos em um futuro próximo e ter de diminuir a qualidade dos alimentos comprados para não correr o risco de faltar comida – insegurança alimentar leve.
  • Os adultos da família passarem a comer menos, para garantir a alimentação das crianças – insegurança alimentar moderada.
  • Ocorrer uma ruptura dos padrões de alimentação da família – o que significa até as crianças passarem a receber menos comida – insegurança alimentar grave – em outras palavras: fome.

Os pobres cada vez mais pobres

E como não poderia deixar de ser, a distribuição da miséria segue nossa desigualdade regional: na Região Sul do Brasil, 21% dos lares estão em situação de insegurança alimentar; enquanto na Região Nordeste, esse patamar chega aos 50% – ou seja, a insegurança alimentar está presente em um a cada dois lares. E é ainda pior na Região Norte, onde são 57% os lares que estão em insegurança alimentar – algo como 6 em cada 10 famílias.

Os votos da fome

Bolsonaro não tem nada a ver com isso, os dados referem-se a 2018. Mas involuntariamente ajudou a minorar o problema. O Congresso enfiou-lhe goela abaixo um auxílio emergêncial de R$ 600,00 – a equipe econômica do governo, entenda-se Paulo Guedes, queria dar apenas R$ 200,00 para o enfrentamento dos efeitos do desemprego e da perda de renda vindos com a pandemia COVID-19.

Veio em boa hora o dinheiro. Segundo Laura de Carvalho – economista e professora da USP – a PNAD-COVID, mostrou que esse auxilio emergencial de R$ 600,00 foi o suficiente para neutralizar o aumento da desigualdade na renda do trabalho causado pela crise e fazer com que os 50% mais pobres não tivessem queda alguma em sua renda habitual.

Os pobres não são ingratos e os resultados eleitorais passaram a mostrar a sua gratidão.

A pesquisa do site Poder 360 – de setembro de 2020, mostrou que Bolsonaro tem 45% de intenções de voto na região Nordeste para as eleições presidenciais de 2022. Região que sempre lhe foi refratária, a ponto de ser a única em que foi derrotado em 2018 – teve 30% dos votos.

E na faixa de renda de até 2 salários mínimos, onde Lula sempre liderou com folga, Bolsonaro tem 27% de intenções de voto – Lula tem 26%.

Os pobres serão comidos pelos miseráveis

Mas 2022 está longe demais e, até dezembro de 2020, o benefício será zerado. Já está, inclusive, reduzido à metade e restrito a um número menor de pessoas.

Com uma taxa de desemprego recorde de 14,3% – 13,7 milhões de desempregados computados em agosto de 2020 – o que comerá esse povo? Brioches?

A única proposta de Paulo Guedes para um programa de distribuição de renda é tirar dos pobres – congelando aposentadorias e pensões – para dar aos famélicos.

Os pobres alimentarão os miseráveis.

Sagrados só o teto de gastos, os benefícios dos militares e do Judiciário e, por óbvio, as desonerações fiscais de empresários e banqueiros.

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