A elegante Rádio Verde-Oliva

O que espanta é que não cause espanto que algo da força de uma intervenção do governo central em um Estado da Federação se dê sem que nenhum analista entenda qual o real motivo dessa ação de força.

General Villas Bôas1

Porque é essa a conclusão a que chego lendo as várias análises feitas de blogues de política às páginas dos grandes jornais sobre a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro decretada por Temer.

Ninguém parece saber para que real fim se deu a intervenção.

Dos que dizem que para disfarçar a derrota na votação da reforma da previdência aos que veem como o primeiro passo da implantação de uma nova ditadura, passando pelos que consideram apenas uma jogada de marketing para melhorar a imagem do governo, há especulações de todos os tipos.

Em relação a uma questão, no entanto, todos parecem concordar: são céticos quanto ao sucesso em atingir o principal objetivo dessa ação: a intervenção não resolverá a questão da segurança pública.

Vivemos tempos muito estranhos.

Talvez, então, devêssemos ouvir os militares. Que missão eles acreditam que estão cumprindo no Rio de Janeiro?

O general Eduardo Villas Bôas – o comandante do Exército – é um homem que cultiva a elegância no desempenho de suas funções. Tratou elegantemente do princípio de crise dada a intempestividade e incontinência verbal do general Mourão e elegantemente o enviou para a reserva. Manteve o comando, a disciplina, a discrição e a elegância.

Como se posicionou o general Villas Bôas, em relação à ação temerária?

Elegantemente deixou claro que a intervenção é de responsabilidade da presidência da República. E delimitou não se tratar de assunto afeito ao comando do Exército. Por analogia, não é assunto das Forças Armadas.

General Villas Bôas2

Mas para se perceber tal é necessário um exercício de elegância ao ler seu elegante texto em uma rede social:

“acabei de reunir-me com o General Braga Netto, nomeado interventor federal na segurança pública do RJ. Da análise, concluímos que a missão enlaça o General diretamente ao Sr. Presidente. Ele terá todo o apoio do Exército. As FA continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem no Rio de Janeiro”.

Reparemos:

1- “Concluímos que a missão enlaça o General diretamente ao Sr. Presidente”.

2 – “Ele terá todo o apoio do Exército”.

3 – “As FA continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem”.

Não me parece declarações de quem está prestes a deflagrar uma típica quartelada latino-americana.

O Exército é disciplinado e não se insubordinará a uma ordem vinda do “Comandante em Chefe”, mas se manterá dentro dos limites constitucionais de sua função.

General Villas Bôas3

Tampouco me parece que o Exército, na figura de seu comandante, nutra ilusões de que cabe às Forças Armadas assumirem para si qualquer obrigação salvacionista em relação à administração do Estado. Em outro texto elegante, o general Villas Bôas pondera:

“Os desafios enfrentados pelo estado do RJ ultrapassam o escopo de segurança pública, alcançando aspectos financeiros, psicossociais, de gestão e comportamentais. ​Verifica-se, pois, a necessidade de uma honesta e efetiva ação integrada dos poderes federais, estaduais e municipais”.

Neste momento, há que se aguardar. Não há como saber em que dará a intervenção federal no Rio de Janeiro. Se ela tinha algum objetivo inconfessado a movê-la, ou se é apenas uma aventura irresponsável.

Vivemos tempos muito estranhos.

Agora, sem dúvida, o comandante do Exército, em relação ao que se espera ser o papel das Forças Armadas nessa intervenção, deixou alguns elegantes recados às “vivandeiras alvoroçadas que aos bivaques buscam bulir com os granadeiros e causar extravagâncias ao poder militar”.

As Forças Armadas continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem”.

PS1: para “preservar” sua imagem, Temer pediu ajuda aos bicheiros cariocas que controlam a Liga das Escolas de Samba para impedir o desfile do Vampirão Neoliberalista da Paraíso do Tuiuti. Em seu túmulo, o “doutor” Castor de Andrade deve ter aberto um sorriso – até por uma questão de etiqueta, favores feitos devem ser retribuídos – o Rio de Janeiro continua lindo. E Temer – o pequeno asno – conseguiu criar um fato novo para um acontecimento cujo impacto já havia sido assimilado. Passou recibo e carimbou mais um ato de truculência no seu passaporte para o lixo da história. Censor de carro-alegórico.

PS2: não é de se esperar que alguém da elegância do general Villas Bôas fosse associar a Arma que comanda a esse tipo de gente – o presidente incluso e companhia bela.

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