O lulismo acabou mais cedo.

Torço pelo sucesso do governo Dilma neste 2015 que será um ano dos mais difíceis. Mas não posso mais considerá-lo como um governo trabalhista.

o lulismo acabou

Avaliava que o lulismo encerraria se em 2018 – um fim de ciclo natural. Acabou antes do fim do ano de 2014.

Há símbolos que não podem ser quebrados. E, desde 30/12/2014, mais do que um símbolo, um elo de confiança entre o governo e os trabalhadores foi rompido.

Nesse dia, um governo tido como trabalhista e eleito com iludidos votos trabalhista anunciou uma brutal redução de benefícios trabalhistas. Atingindo os mais frágeis, os pensionistas, os desempregados e os afastados por doença. Pensões reduzidas à metade ou simplesmente negadas.

Não há como não sentirmo-nos traídos. E em uma relação de confiança, aceita-se fazer sacrifícios para mantê-la, mas nenhuma relação de confiança resiste a uma traição.

Os trabalhadores foram responsabilizados pelo ônus do reequilíbrio fiscal. Aos trabalhadores foram cobrados 18 bilhões de reais ao ano em direitos trabalhistas. E direitos trabalhistas uma vez retirados jamais são recuperados. Do outro lado, 60 dias antes, os financistas haviam sido agraciados com um acréscimo de 0,25% de juros a uma SELIC já indecente. São agora 11,25% de juros ao ano para uma inflação anual de 6,5%. Cada 1,5% da taxa de juros correspondem a um Bolsa-Família.

FHC não fez pior.

Tenho na minha memória o governo FHC. O fator previdenciário que tira dos mais pobres parte da aposentadoria é indecoroso. Mas foi apresentado por esse governo como a correção de uma distorção, como necessário às “futuras gerações” e como um imperativo moral. Impedia que vagabundos se aposentassem cedo. Eu, filho de uma família pobre que precisou começar a trabalhar aos 14 anos, tornei-me um vagabundo após 35 anos ininterruptos de trabalho e contribuições.

Na mesma época, não eram vagabundos os patrões que reduziam os encargos da sua folha de pagamentos com a precarização das relações trabalhistas. Trabalhadores sem carteira assinada e terceirizados foram as marcas dos governos FHC. Funcionários tornados “pessoas jurídicas” que deixaram de receber contracheques e passaram a emitir nota fiscal aos patrões.

O fator previdenciário continua tal como qual. À bem da verdade, nem “Lulinha paz e amor” nem “Dilma, mãe do PAC” fizeram algo para reverter essa espoliação. Agora, o governo Dilma a intensifica.

No penúltimo dia do seu 1º mandato, assisti abismado Aloizio Mercadante, o mais inodoro dos próceres petistas, usar do mesmo moralismo hipócrita. Tratava-se não de redução de benefícios, mas sim de “moralizar” o pagamento desses benefícios. Sim, as viúvas são as culpadas de se tornarem viúvas cedo demais para o que o governo Dilma julga ser o momento adequado para terem seus maridos falecidos. Imorais são os trabalhadores desempregados antes de um ano e meio de contribuição ou que se adoentam. São os neo-vagabundos dilmistas.

Mas não é imoral conceder desoneração fiscal da folha de pagamentos para multinacionais estrangeiras e de capital fechado.

Continuo torcendo pelo sucesso do governo Dilma, faço votos que o país cresça, mas estou inseguro quanto à garantia de que os trabalhadores se apropriarão da riqueza vinda desse crescimento. O capital venceu a esperança.

Como uma piada, melhor seria se Aécio tivesse vencido, poderíamos, ao menos, sonhar com um futuro governo petista.

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